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A morte não é senão um vocábulo sem nexo (Jorge Hessen)


A morte não é senão um vocábulo sem nexo (Jorge Hessen)


Jorge Hessen
Brasília – DF

Sobrevivendo à retórica dos que afirmam em alta voz que a Covid-19 é uma cilada ideológica, reafirmamos que estamos diante de um novo coronavírus que carrega consigo mais interrogações do que certezas, mormente para as pessoas com fatores de risco. Sou pai de uma filhona especial (não é Down), que é uma pérola preciosíssima para nós. Sei que no mundo inteiro há famílias de milhares de filhos especiais (pessoas com síndrome de Down) que estão vivendo dias de angústia pelos enigmas quanto aos efeitos da Covid-19 nos filhos especiais, além de mudanças drásticas no dia a dia de intensas terapias e ensinos por conta do isolamento social.
É significativa a parcela de pessoas com síndrome de Down que já nasce com comprometimentos no coração, pulmão e sistema imunológico, e que desenvolvem diabetes e obesidade — observando que todas essas condições são fatores de risco para a Covid-19. [1] É verdade! Quaisquer portadores de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, asma ou indivíduos acima de 60 anos são os mais propensos a terem complicações fatais.
Um estudo recém-publicado no British Medical Journal (BMJ) traz novos dados sobre os tais grupos de risco do novo coronavírus. De fato, os idosos estão mais suscetíveis às complicações do Sars-Cov-2 por causa de alterações no sistema imunológico naturais da idade. No caso dos males cardíacos, a circulação prejudicada e a debilidade dos pulmões parecem favorecer a agressividade da infecção. Asma, enfermidades hematológicas, doença renal crônica, imunodepressão (provocada pelo tratamento de condições autoimunes, como o lúpus, ou câncer) e obesidade também estão ligadas às mortes. [2] Todavia, o curioso é que um estudo inédito realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que mais de 80 milhões de adultos brasileiros estão no grupo de risco para a Covid-19. Aqui em Brasília, “o número alcança 49,2% da população, o equivalente a 1.136.833 pessoas.” [3]
A grande maioria (84,5%) dos médicos brasileiros considera que o Brasil ainda não atravessou a pior onda do novo coronavírus, como mostra a segunda pesquisa da APM (Associação Paulista de Medicina). Foram entrevistados 2.808 profissionais de todo o país, das redes pública e privada, entre os dias 15 e 25 de maio [de 2020]. Eles responderam a questionário estruturado online, na plataforma Survey Monkey. A grande maioria (75,3%) considera o isolamento social importante, mesmo com as perdas financeiras advindas dele, pois 85,2% relatam queda de renda em razão da pandemia. Cerca de 79,3% dos médicos da linha de frente seguem apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos e revoltados. Entre os profissionais da linha de frente, 33,7% tiveram pacientes que morreram em razão da doença. [4]
Dos diferentes debates, todos são unânimes em afirmar que há três coisas para serem praticadas nesta pandemia: o isolamento social, a solidariedade e os testes diagnósticos. Sem solidariedade, não tem isolamento. Sem teste, não adianta fazer isolamento. As pessoas um dia vão ter que sair de casa e, quando saírem, podem se contaminar. Será que a fé espírita pode ser um antídoto contra a Covid-19?
Cremos que o conhecimento espírita propicia uma força moral que é capaz de nos preservar de muitas doenças, até porque, para o espírita convicto, não deve haver esse temor da morte. Na devastadora pandemia da cólera do século XIX, Allan Kardec expressamente registra que devemos seguir as medidas sanitárias.[5] 
A calma deve ser exercitada, dominada, a fim de que possamos aproveitar o período de isolamento social imposto pelas circunstâncias da pandemia, na busca da meditação, daquela infrequente viagem interior e do conhecimento de si mesmo, auxiliando na conquista da paz interior. A oração será recurso primordial por nos manter conectados com Deus e com as forças superiores mantenedoras da vida. É urgente darmos a devida importância da higiene para evitar contaminações.
É mister evitar o medo, que é pior do que o próprio mal pandêmico. E não ignorarmos os primeiros sintomas da doença, que recomendarão medidas específicas. Em 1868, Kardec publicou na RE que “(...) é apavorante pensar em perigos dessa natureza [pandemia], mas, pelo fato de serem necessários (…), é preferível, em vez de esperá-los tremendo, preparar-se para enfrentá-los sem medo, sejam quais forem os seus resultados. Preparai-vos, pois, para tudo, e sejam quais forem a hora e a natureza do perigo, compenetrai-vos desta verdade: A morte não é senão uma palavra vã e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar.” [6]
Referências bibliográficas:
1              Disponível  em https://www.bbc.com/portuguese/geral-52627581)  acesso 21/05/20
2              Disponível em https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-novos-dados-sobre-grupos-de-risco/ acesso 23/05/20
4              Disponível em https://br.yahoo.com/noticias/m%C3%A9dicos-consideram-que-o-pior-154500848.html  em 06 de junho de 2020
5              KARDEC, Allan. Revista Espírita, novembro de 1865, RJ: Ed Feb 1990
6              KARDEC, Allan. Revista Espírita, novembro de 1868, RJ: Ed Feb 1990 - mensagem mediúnica recebida na Sociedade de Paris, em 16 de outubro de 1868, sobre a “Epidemia na Ilha Maurícia”


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