O
princípio científico da libertação do ser
por
Jane Maiolo
-Senhor,
por ventura sou eu?
A
narrativa, presente no Evangelho de Mateus, no capítulo 26, versículo 20 a
29,[1] tem-nos suscitado o
entendimento intrigante sobre a inquirição dos discípulos ao Cristo após Este
anunciar que: “Um de vós que está
comendo comigo me entregará”. A revelação do Cristo soa como um alarme aos
discípulos que mergulham no seu mundo consciencial e desejam encontrar as
possíveis culpas que pudessem dar ensejo a uma anunciada traição.
A
desarticulação emocional do momento faz com que os discípulos interroguem ao
Cristo: “Senhor, por ventura sou eu?”,
aguardando, quem sabe, uma resposta que os pudessem liberá-los do sentimento da
culpabilidade, presente nas suas consciências ainda frágeis.
A
questão da culpa remete-nos a um “pecado”, pois onde há “pecado” há culpa.
As
religiões cristãs foram se estruturando ao longo dos séculos, principalmente
após a concessão de liberdade de culto Cristão, pelo Imperador Constantino e a
oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano por Teodósio.
Após esse período nascem os dogmas e surge o “pecado” da cruz.
A
ideia do “pecado” porém é anterior a essa conquista. Antiga é nos manuscrito a
crença que somos pecadores por herança
de Adão.
O
pecado de Adão foi lançado a toda a posteridade, conforme diz Paulo “Portanto,
como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também
a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” [2] Com a vinda
do Cristo sobre a Terra, no pensamento cristão, inicia-se o conceito de que
Deus, o Pai, envia seu filho perfeito para nos tirar os pecados. Afirmaria o
evangelista João “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” [3]
A
idade média seria um campo fértil para a disseminação das ideias religiosas que
pretendiam um certo controle sobre as mentes dos fiéis, pois a possibilidade da
salvação eterna estaria condicionada as práticas religiosas ensinadas pelas
instituições.
Porém, novas perspectivas e auspiciosas
esperanças surgem nos meados do século XIX com o advento do Espiritismo,
consubstanciado no Consolador Prometido, que nos instrui sobre as etapas necessárias
da contrição, da expiação e da reparação, a fim de que nos desvinculemos da
culpa e libertemo-nos das amarras das impostas penalidades divinas sem
remissão.
Onde algumas
religiões cristãs divisam o “pecado” da cruz, que seus seguidores carregam no
dorso, o Espiritismo nos instrui sobre a lição do perdão, da misericórdia e da sobrevivência
da alma. É verdade! Em nossa imortalidade fomos empilhando experiência de vida
pelos mecanismos da reencarnação e dentre os reflexos estampados em nossa
história a culpa também retrata os desvios em face da nossa liberdade escolher
e agir.
Portanto,
sorvemos o cálice da culpa por vias transversais, seja pela indisciplina ante o
buril educativo que advém nas experiências externas à nossa consciência, ou pelo
uso da nossa autonomia de escolha, quando desobediente aos ditames da Lei
,inscritas na consciência, nos remete às experiências traumáticas, caprichosas
ou infelizes, que despedaçam a nossa essencialidade.
Os deslizes,
falhas e crimes que praticamos, em eras remotas ou atuais, gravados na nossa
memória espiritual, por vezes sobem à tona e vibramos na sintonia da desarmonia
e da inquietação, infligindo-nos o mergulho nos mares profundos da tristeza.
Interessante
que o prodígio do Déjà vu, muitas vezes, nos remete a
sentimentos de nostalgia ou culpa nos arremessando nos infortúnios da
consternação.
Sensata
a recomendação da resposta dos espíritos à questão de número 242 de O Livro dos
Espíritos, quando nos indicam que quando
nos ocupamos com o passado ele é presente.[4] A imersão nas memórias transatas,
principalmente as que trazem um teor de sofrimento e tristeza, estabelece a
incursão de uma zona de remorso e passamos a projetar energias dilacerantes no
campo mental, desvitalizando-nos e ficando à mercê das invasões microbianas
fisiopsíquicas, muitas vezes alojadas devido ás predisposições mórbidas que
trazemos registradas no nosso corpo perispiritual.[5]
Desse
modo, naturalmente adoeceremos os corpos de manifestação do espírito, imprimindo
transtornos de comportamento e por conseguintes desordens depressivas, além de variadas
síndromes e patologias de etiologias estranhas.
A
mente culpada institui uma usina de toxicidade, entretanto, como nos libertarmos
da culpa?
André Luiz, no livro No Mundo Maior, Capítulo
4, intitulado “Estudando o cérebro” introduz o conceito do “Princípio
científico de libertação do ser” , ensinando-nos que os remédios e as terapias libertadoras
são as mesmas indicadas por Jesus, ou seja, a humildade frente às falhas, a reconciliação
com o adversário, ou seja, com o eu profundo e o perdão a si mesmo, sem limites,
indicando , também, a terapia do
desabafo [circunspecto], que é
um excelente mecanismo para dissipar as energias da culpa que impregnam todo
nosso campo mental.[6]
Quando
adentramos esses quadros graves na nossa existência, pode ser o início de um
processo longo de recuperação da nossa conexão com as leis divinas. O espírito imortal
começa a se incomodar com as impressões negativas que carrega no arcabouço das
emoções e anseia libertar-se das opressões.
Entendermo-nos
filhos de Deus e merecedores das
benesses é terapêutica das mais sublimes e requintadas. Poderemos nos redimir e
afastar os fantasmas da culpa, pois se um
ato de amor cobre uma multidão de pecados, urge então não desperdiçarmos
ocasião e amar sempre, principalmente a nós mesmos! [7]
Referências bibliográficas:
[1]
Mateus 26, 20 a 29
[2] Romanos
5.12,
[3]
João 1,29
[4]
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007. Perg. 242
[5] XAVIER, Francisco Cândido e
Waldo Vieira. Evolução em dois mundos, ditado pelo André Luiz, segunda parte -
cap. 19. -Brasília /DF: Ed FEB.
[6]
XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior, ditado pelo André Luiz, cap.4
-Brasília /DF: Ed FEB.
[7] 1 Pedro 4
*Jane
Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada
em Psicopedagogia. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales/SP.
Pesquisadora do Evangelho. Colaboradora e articulista da Agenda Brasil
Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Revista
Verdade e Luz de Portugal-Blog do Bruno Tavares Recife/PE- Site www.kardecriopreto.com.br
-Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.
janemaiolo@bol.com.br -