Antonio Cesar Perri de Carvalho
Allan Kardec lançou a obra
O céu e o inferno em Paris no dia 01/08/1865. A versão
considerada final – 4ª. edição - surgiu em 1869 e sem o prefácio de Kardec.
No Brasil, dr. Joaquim
Carlos Travassos manteve correspondência com Pierre-Gaétan Leymarie, dirigente
da Sociedade citada e redator de “Revue Spirite”, com o objetivo de traduzir as
obras de Kardec. E lançou em 1875, pela Editora B. L. Garnier,
O Céu e o
Inferno, traduzido da 4ª
edição francesa, sem o nome do tradutor. Em nosso país, com
exceção da tradução pioneira e da realizada por Manoel Quintão, em 1904 (FEB),
a maioria contém o Prefácio de Kardec, inclusive a mais recente tradução, de
Evandro Noleto Bezerra.
Com
as obras da Codificação, surge uma maneira de racionalismo espírita, com
destaque para as colocações em “O evangelho segundo o espiritismo”, de que “Fé
inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as
etapas da humanidade”. Herculano Pires comenta que coube a Allan Kardec, a
serviço do Consolador, libertar da letra que mata o espírito que vivifica. Ou
seja, a religião dedutiva faz Deus baixar à terra e materializar-se em ritos e
objetos; a religião indutiva faz o homem subir ao céu e desmaterializar-se, em
razão e amor, para encontrar Deus.
No
Prefácio, ausente na 4ª. edição francesa (1869) e em muitas traduções, Kardec
comenta: “O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Nela reunimos
todos os elementos destinados a esclarecer o homem quanto ao seu destino. Como
em nossas publicações anteriores sobre a
Doutrina Espírita, nada colocamos neste livro que seja produto de um sistema
preconcebido ou de concepção pessoal, que aliás, não teria nenhuma autoridade.
Tudo foi deduzido da observação e da concordância dos fatos”.
Em
outro trecho esclarece: “As mesmas razões que nos fizeram omitir os nomes dos
médiuns em O evangelho segundo o
espiritismo, levaram-nos a omiti-los também nesta obra, tendo em vista mais
o futuro do que o presente.”
A
1ª. parte trata de Doutrina, em 12 capítulos, contém o exame comparado das
diversas crenças sobre: O porvir e o nada; Temor da morte; O céu; O inferno; O
purgatório; As penas futuras segundo o Espiritismo; Os anjos; Os demônios;
Intervenção dos demônios nas modernas manifestações. Com as penas eternas na
visão espírita caem naturalmente as consequências que se acreditavam tirar de
tal doutrina. Como as penitências, indulgências, e complexos de culpa.
Na
2ª. Parte, o Codificador analisou “Exemplos” e há numerosos casos que sustentam
a teoria. A autoridade deles se baseia na diversidade dos tempos e dos lugares
onde foram obtidos, porquanto, se emanassem de uma fonte única, poderiam ser
produto de uma mesma influência. De
início Kardec esclarece como se desenvolve o processo da desencarnação. Detalha
algumas circunstâncias, lembrando que “A certeza da vida futura não exclui as
apreensões quanto à passagem desta para a outra vida”. Em seguida, realizou um
trabalho pioneiro de estudo das manifestações espirituais, cotejando-as com
dados sobre a existência do manifestante, enquanto encarnado. Trata-se,
portanto, do primeiro estudo de casos, de análise das manifestações
espirituais, e de estudo de sobrevivência.
Sem
pieguismo e adotando método de estudo, como em seus trabalhos em geral, analisa
as manifestações dentro de uma classificação que estabeleceu de: Espíritos
felizes; Espíritos em condições medianas; Espíritos sofredores; Suicidas;
Criminosos arrependidos; Espíritos endurecidos; Expiações terrestres. Torna-se muito
importante a compreensão dessas distintas situações de espíritos desencarnados.
Esta classificação genérica formulada por Kardec chama atenção para essa
relação entre a vida e morte corpórea e seus desdobramentos. O importante é o
estado de alma e o nível e profundidade de como “a lei divina se encontra
escrita na consciência” de cada um.
Por
ocasião do centenário de O céu e o
inferno, o espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, homenageou
esta obra do Codificador, escrevendo Justiça
divina, “com o propósito sincero de reafirmar-lhes os conceitos, [...] no
serviço interpretativo da palavra libertadora de Allan Kardec”. Com base nos
itens do livro agora sesquicentenário, Emmanuel tece considerações de
orientação para a vida cotidiana. Entre outras afirma: “[...] prevenindo-nos
para compreender as realidades da Natureza, no grande porvir, ensinou-nos
Jesus, claramente: ‘O Reino de Deus está dentro de vós”.
O Espiritismo responde às dúvidas existenciais
mais freqüentes. E à pergunta insistente que brota na alma humana: “para onde
vou após a morte?”. O livro O céu e o
inferno – que completa 150 anos de lançamento - é a resposta clara e
fundamentada!
Fontes:
Kardec, Allan. O
céu e o inferno. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB.
2010.
Pires, Herculano.
O espírito e o tempo. Introdução histórica ao espiritismo. 1.ed. São Paulo:
Ed.Pensamento, 1964.
Xavier, Francisco Cândido. Justiça divina. 13. ed. Pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro:
FEB. 2008.
Wantuil, Zêus. Grandes
espíritas do Brasil. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB. 1969.
(Transcrito de “O Consolador” – revista semanal digital, no
425, 2/8/2015)
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