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Luiz Carlos Formiga |
Sobrepairavam sombras intensas sobre aquelas
cercanias... Aquela era a Galiléia dos amores em festa, dos homens simples,
onde pululavam flores de inúmeras cores, convidando as criaturas ao encontro
com o Criador. Vetustos arvoredos bailavam ao lado de sicômoros e pétalas
perfumavam o ar que agora parecia balsamizante, para o refazimento dos
viajores.
As sombras da tempestade avizinhavam-se dos
corações, quando um séquito de sofredores esfarrapados adentrava as primeiras
ruelas, entre as casas singelas, fazendo esbater a multidão, espavorida.
"- Afastai-vos da direção do vento ! Lepra !
" Exclamavam, revoltas e amedrontadas, as vozes ignorantes dos tempos
pregressos.
Partiam todos no turbilhão desesperado,
entrechocando-se e o pânico, o medo da morte – que não pode ocorrer –
faziam-nos fugir espetacularmente daquele grupo de desgraçados mendicantes que
tinham corações vergastados por indefiníveis aflições, que lhe caiam sobre as
almas quais punhais afiados, fazendo sangrar.
Não eram mais que cinco pessoas. Duas mulheres, mãe
e filha, o esposo e duas pequenas crianças, que choravam a dor do abandono dos
que apregoavam o amor ao Deus que os havia liberto do Egito, mas que ainda não
os havia libertado das iniquidades, do puritanismo sem pureza, da ignorância
infeliz e deprimente, como se não fosse a criatura a responsável por suas
escolhas.
Corriam as criaturas, fitavam os olhos súplices
daquela família, mas não logravam vencer o preconceito, nem tão pouco a repulsa
instintiva. Não podiam socorrer os imundos ou imundos tornar-se-iam, da mesma
forma.
Jerusalém era-lhes a moradia para onde se deveriam
dirigir, o cárcere entre as rochas do vale da morte, um sepulcro ao ar livre
para os esquecidos pela hipocrisia, que seria desperta, igualmente, pela dor,
mais tarde.
Caiam aqueles seres ao solo da degradação humana,
sem teto, sem amigos, sem dignidade, sofridos, com os peitos oprimidos pela
pungente, mas já esperada, decepção. Faziam recordar o antigo texto moisaico
que prescrevia: "Ai do homem que confia no homem. " Aqueles eram dias
de brutalidade e de desencontros, de dificuldades e de desconsideração para a
alma do sofredor da estrada.
Foi neste instante que Ele surgiu. Era, então, um
menino de onze anos, que saia da carpintaria, de junto de seu pai, a quem
auxiliava com devoção, colocando-se na direção daqueles seres.
Sua mãe, algo apreensiva, olhava-O com algum
receio, mas calava, pois sabia intimamente que Ele não pertencia ao plano
terrenal das conquistas fúteis e dos homens ricos de conflitos.
O pequeno Yoshua aproximava-se deles, lentamente,
como a suave aragem da manhã, que faz bailar as flores do campo, lançando o
pólen da esperança, na multiplicação da vida.
A túnica era alvinitente e leve, seus passos eram
carinhosos e o olhar meigo resplandecia uma luz indefinível e inesquecível, que
fazia chorar.
O pai de família tombou, neste instante de
angústias, vencido pelas cruciantes feridas, cansado e soterrado pela
desolação.
O jovem menino aproximou-se-lhe e disse:
"- Homem, meu Pai me enviou para falar-vos de
que o momento da transformação está próximo e de que o filho do homem há de
restaurar na lei dos homens o pensamento divino, há muito vilipendiado e
corrompido, violado e esquecido."
O pai infortunado contemplou aquele jovem. Como
poderia falar com tal propriedade, em muito superior aos doutores da lei, na
clareza e na sublimidade ?
"- Aproximai-vos de mim. Vinde até aqui.
"
E a família acercou-se do pequeno, que então lhes
falou :
"- Bem aventurados os que tem coragem para
prosseguir com o coração ultrajado, mas repleto de fé, certos de que o amparo
virá de cima, a maneira do Sol que ilumina e retempera os corações para a forja
da luta redentora. Meu pai não anela a dor e o sofrimento, neste mundo de
tormento. Ele deseja que o Seu Reino e o meu reino, de amor e de paz se
multiplique no imo de cada ser, de cada filho do Seu amor soberano e
onipresente. Ide ! Vós estais curados ! "
Uma única frase ... As feridas foram-se.
Não era a primeira vez e nem seria a última.
A família contemplou o jovem, agora envolvido por
sua mãe e por seu pai, Yussef e Myrian, José e Maria, que se lhe aproximaram
por de trás, pondo-lhes as mãos sobre os ombros que sustentariam, mais tarde, a
indigência da humanidade.
Ele, então, finalizou, dizendo:
" – Prossegui, na jornada, certos de que não
foi a carne curada senão porque as almas assim o foram por efeito da vossa fé e
da pureza que guardais em vossos corações. Não vos equivoqueis, pois muitos
serão renovados na carne e volverão ao pranto, corromper-se-ão, mas o filho do
homem veio para os sedentos da cura integral. Ide em paz. "
A família compreendeu e partiu serena e agradecida.
Dias após, eram todos encontrados entre os necessitados, servindo-os
amavelmente na sementeira com Jesus. Haviam compreendido e sentido o momento da
transformação, que se iniciara na consolação, no consequente entendimento da
vida, na conversão, para que o trabalho ilumine definitivamente a vida com amor
e caridade.
Iniciava-se a nova era, naqueles dias. Quem O visse
ou fosse por Ele tocado, jamais seria o mesmo. Aquele era o limiar da
transformação.
Esta mensagem do
Espírito Filipe, faz parte das memórias do NEU-RJ na WEB. Ela foi colocada na
sua página inicial, onde existe a informação de que “o trabalho do NEU é a
divulgação dos postulados espíritas no ambiente universitário, acreditando que
se estará contribuindo para elevar o nível de consciência da comunidade
acadêmica”
Os que valorizam
“memórias” encontrarão mais detalhes na história do NEU-Fundão, o primogênito
de uma família universitária que foi numerosa, naqueles dias da década de 1990.
(1, 2)
Filipe psicografou
através do médium Marcelo Jorge Nazareth, acadêmico de medicina, 20 anos, que
nos autorizou a divulgação, em 1994.
Nos dias de hoje,
podemos ampliar informações sobre o médium e Psiquiatra através da página de seu
livro “Convites à Reflexão”, Espírito Fernando de Luna, da Editora Novo Ser,
Rio de Janeiro. (3)
O Limiar da Transformação foi escrito no dia
26 de março do ano 2000, numa reunião do Centro Espírita Filhos de Deus, no
grande terreno onde se situa o Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária,
conhecido “Curupaiti”.
Era nesse Centro
Espírita que trabalhava um dos maiores exemplos de superação e fraternidade que
tive a honra de conhecer: Amazonas Hércules, (4) que depois de desencarnado
continua a oferecer a sua solidariedade. (5)
Fontes