Pular para o conteúdo principal

Refugiados na Europa


Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em novembro, por ocasião de viagem a cidades suíças e a Viena, principalmente nesta última manifestamos interesse em conhecer a realidade dos refugiados de países do Oriente Médio que têm chegado à capital austríaca. Não há apenas sírios, mas também iraquianos e afegãos. 

Como se sabe a Áustria é um dos roteiros dos refugiados, como rota de passagem ou para permanência. Soubemos que ali já aconteceram momentos críticos, quando algumas estações ficaram superlotadas, com o agravamento do fechamento de algumas fronteiras e a suspensão temporária de algumas rotas ferroviárias.

Estivemos numa das estações vienenses, a Westbannhoff, onde ao lado funciona uma sede da Cáritas, que é uma grande instituição católica internacional. Ali, os refugiados são temporariamente albergados, recebem roupas e material de higiene pessoal e são encaminhados para postos de atendimento governamental onde freqüentam cursos de alemão e são orientados para ocupações de trabalho. Junto à Cáritas, atuam muitos voluntários, principalmente os que falam o árabe. Ali soubemos que há plantonistas brasileiros e conhecemos, em instituição espírita, pessoas que fazem campanhas em favor dos refugiados e também uma assistente social que lida com eles em trabalho junto a órgão assistencial governamental. 

Claramente se percebe que os refugiados são egressos de várias condições sociais. Na Cáritas vimos pessoas de excelente aparência escolhendo roupas doadas. Nas cercanias e na própria estação vimos família sentada no chão e muitos jovens circulando com alguns poucos pertences. No conjunto, o cenário é triste e provoca muitas reflexões sobre as condições do mundo de nossos dias.

O governo da Áustria tem oferecido condições de permanência para muitos refugiados. Todavia, em diálogos com amigos, verificamos que ocorrem posições diferentes no seio da população: os que apóiam e aqueles que tendem a uma reação discriminatória e contrária. Inclusive, alguns interlocutores se mostraram preocupados com eventuais acirramentos de posturas autóctones. 

Em diálogos e após palestras nossas, inclusive na Suíça, fizeram-nos perguntas sobre a visão espírita a respeito da relação entre Europa e as populações que emigram do Oriente Médio e da África, em condições dramáticas. Evidentemente que os mecanismos reencarnatórios com base na lei de causa e efeito e o popular conceito da “lei do retorno”, esclarecem tais situações. Ao longo de milênios e até recentemente quantos equívocos se estabeleceram nas relações entre os países e os descendentes dos povos do entorno do Mar Mediterrâneo e da Europa em geral!

O momento grave – tangenciando questões políticas, econômicas, sociais, religiosas e de segurança -, somente poderá ser amenizado, como comentaram nossos interlocutores, com ação coordenada da União Européia, e, entendemos que com amplo apoio dos vários segmentos da sociedade, mas pautados em princípios de respeito à diversidade, fraternidade e solidariedade. Como a essência dos ensinos do Cristo pode ser valiosa para o balisamento de ações realmente humanitárias!

Como reflexão lembramos que o ex-doutor da Lei, o intimorato Paulo de Tarso, chegou a Roma como prisioneiro e sobrevivente de naufrágio durante a travessia do Mediterrâneo... (Atos, ). Nos seus escritos o apóstolo da gentilidade anotou sobre o esforço de sermos “embaixadores do Cristo” (2 Cor. 5:20), e este relatou a parábola do bom samaritano como balisamento para a “regra áurea”!


(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP; membro da Comissão Executiva do CEI e do Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier.

Fonte:  http://grupochicoxavier.com.br/refugiados-na-europa/ 

Postagens mais visitadas deste blog

O livro “Maria de Nazaré” do autor espiritual Miramez pela mediunidade de João Nunes Maia: Uma análise crítica”

Leonardo Marmo Moreira O zelo doutrinário e o cuidado em não aceitar utopias antes delas serem confirmadas é o mínimo de critério que todo espírita consciente deve ter antes de admitir algo dentro do contexto do estudo espírita. Esse critério deve ser ainda mais rigoroso antes do espiritista sair divulgando ou citando, enquanto expositor ou articulista espirita, tais dados ou informações como corroborações a qualquer ideia ou informações, ainda mais quando digam respeito a realidades de difícil constatação, tais como detalhes da vida do mundo espiritual; eventos espirituais envolvendo Espíritos de elevadíssima condição, episódios espirituais de um passado distante, entre outros. Esse tipo de escrúpulo é o que faz com que o Espiritismo não seja apenas uma religião convencional, mas esteja sustentado em um tripé científico-filosófico-religioso, cujo material de conexão dos vértices desse triângulo é a fé raciocinada.  Temos observado confrades citarem a obra “Maria de...

Maria Dolores, poetisa baiana e mentora do PAE

  Maria Dolores   Biografia de "Maria Dolores." Maria de Carvalho Leite, a conhecida Maria Dolores no Espiritismo, renasceu em Bonfim da Feira (Bahia) em 10 de setembro de 1901 e desencarnou, vitimada por pneumonia, em 27 de julho de 1958; teve três irmãos e duas irmãs; seus pais terrestres foram Hermenegildo Leite e Balmina de Carvalho Leite. Maria Dolores, também chamada de Madô e de Mariinha, diplomou-se professora em 1916 e lecionou no Educandário dos Perdões e no Ginásio Carneiro Ribeiro, ambos em Salvador - Bahia; durante sua vida dedicou-se à Arte Poética e foi redatora-chefe, durante 13 anos, da página feminina do Jornal O Imparcial, além de colaborar no Diário de Notícias e nO Imparcial: sua produção poética foi reunida no livro Ciranda da Vida cujos recursos financeiros foram destinados à instituição Lar das Meninas sem Lar. Casada com o médico Odilon Machado, após anos de sofrimento conjugal, desquitou-se sem ter filhos do próprio ventre; talvez ...

Armas de fogo para quê? Somos pela paz

Armas de fogo para quê? Somos pela paz Jorge Hessen  jorgehessen@gmail.com Brasília - DF  Um encontro entre jovens, em um condomínio de luxo de Cuiabá, se tornou uma tragédia no dia 12 de julho de 2020. Naquela tarde, como fazia com frequência, Isabele Guimarães, de 14 anos, foi à casa das amigas. Horas depois, a jovem foi morta com um tiro no rosto. A autora do disparo Laura, também de 14 anos, relatou à polícia que atirou de modo acidental em Isabele. A adolescente afirmou que se desequilibrou, enquanto segurava duas armas, e disparou. A família da Isabele não acredita nessa versão. Laura praticava tiro esportivo desde o fim de 2019. Ela participou de duas competições e venceu uma delas. (1) Hoje em dia , adolescentes como Laura podem praticar tiro esportivo sem precisar de autorização judicial, graças ao decreto assinado pelo atual presidente do Brasil. A família de Laura, a homicida, integra uma categoria que tem crescido no país, sobretudo durante o atual go...